[Sessão Pipoca] Encanto

Encanto não entrou na lista dos filmes ano passado, porque assisti depois de já ter publicado a postagem e achei que já estava extensa demais para fazer uma atualização de última hora. Mas o que foi esse filme? Não tinha expectativa nenhuma, a não ser uma aventura colorida e cheia de canções chiclete e descobri uma animação que deveria continuar sendo muito divulgada, apesar dois seus 3 anos de lançamento, para que sua mensagem chegue a cada vez mais pessoas. Leia a postagem e veja se você concorda comigo! 😉

Sinopse: “Encanto” conta a história dos Madrigal, uma família extraordinária que vive escondida numa casa mágica numa vila vibrante situada em Encanto, um local encantador e maravilhoso nas montanhas da Colômbia. A magia de Encanto abençoou todas as crianças da família com um dom único, desde a superforça ao poder de cura. Todas as crianças à exceção de Mirabel. Quando a magia que envolve Encanto corre perigo, Mirabel, a única Madrigal sem um dom, percebe que poderá ser a última esperança da sua extraordinária família. [Fonte: Disney+]

O filme começa com a Abuela contando para a neta, Mirabel, como a família conseguiu a casa para morar, a formação do vilarejo e a origem da magia na família. É uma história de sofrimento e superação com um final feliz, ou pelo menos é o que parece.

Na sequência, temos a primeira canção com Mirabel apresentando a família e seus dons para as crianças curiosas da vila que insistem em saber o dom dela. A menina tenta mudar o foco da conversa, falando dos outros parentes, mas sua prima Dolores acaba revelando a verdade de que Mirabel não tem um dom mágico.

 

O dia é especial, pois o neto mais novo da família, Antonio, está para ganhar seu dom. Todos estão ajudando na organização da festa, inclusive Mirabel, só que sem magia ela é aconselhada pela Abuela a ficar fora do caminho e deixar os outros trabalharem. A menina não se sente nada bem pela forma como é tratada, principalmente pela avó, mas prefere esconder a dor pelo bem de todos mentindo ao revelar ao primo que é feliz porque tem uma casa e uma família incrível.
 

Entretanto, algo acontece durante aquela noite especial. Apenas Mirabel vê rachaduras nas paredes da casa dos Madrigal que ameaça inclusive a vela que nunca se apaga, a fonte da magia da família. Ao tentar contar para a Abuela ela é repreendida, mas a menina sabe que está falando a verdade, pois durante o ocorrido foi atingida por um pedaço do telhado que despencou. Seu desafio a partir daí é salvar a Casita, mesmo que ninguém acredite nela. O medo que seus parentes sentem da Abuela, e agem até contra a própria vontade pelo bem da família, os impede de apoiar a menina.

Provavelmente nunca escrevi uma resenha me segurando tanto para não dar spoilers, porque apesar de ser um lançamento antigo, acho que quem ainda não viu merece todas as surpresas que esse filme traz. As canções são pequenos clipes dos personagens que cantam, demonstram seus sentimentos e são fundamentais para entendermos a narrativa. Já a vila Encanto, protegida entre montanhas na Colômbia exibe toda exuberância da natureza sul-americana. Essas duas características contribuíram e muito para minha identificação com a animação.

O que a primeira vista me pareceu uma família com pessoas dotadas de dons mágicos, aos poucos se revelou um exemplo de dinâmica tradicional mais comum do que deveria por ser tão nociva. Quando Mirabel apresenta os parentes na primeira canção, tudo parece muito alegre, mas à medida que vamos conhecendo cada personagem, as coisas não parecem tão positivas quanto parecem.

Luisa, a irmã com o dom da força está se sentindo sufocada e acredita que não é nada sem seu dom. Em sua canção temos trechos como: “Não questiono se é pesado, o meu corpo suporta o fardo. | Estou nervosa, e ansiosa. Como um herói que se cansou numa luta horrorosa. | Não posso cansar, não posso falhar. | Não sou nada se tirar o meu dom. | Pode até machucar, mas não diz não.” Ela tem uma necessidade urgente: “Que tal mudar o astral, e segurar a expectativa? Eu seria tão mais feliz e tão mais viva”, mas não quer decepcionar a família.

Com Isabela, a pressão é pela perfeição, por conta das belas flores que cria e por sua bela aparência, ela é celebrada pela Abuela como a neta perfeita e acaba tendo a antipatia da irmã mais nova, Mirabel, por ter uma vida aparentemente perfeita e reclamar disso. Mas em sua canção vemos que não é bem assim: “Correspondo ao que se espera. Os sorrisos, eu ensaio. E se eu cansasse e brotasse tudo aquilo que eu sinto? A aflição vem da pressão pra ser a filha perfeita. Se eu pudesse viver. Quero só viver”.

Continuando com os dons expostos na primeira música ainda temos a Pepa, tia da protagonista, cujo humor afeta o tempo e ela tem pouco controle sobre isso, Julieta, mãe da Mirabel, que tem o poder de curar tudo com a comida que prepara, e Bruno, tio da menina que sumiu há anos e a família é impedida de falar sobre ele, mas pode cantar e assim descobrimos que o dom dele tem a ver com a previsão do futuro. Entre os primos de Mirabel, Dolores tem uma superaudição, Camilo muda o corpo para ficar parecido com qualquer pessoa e usa isso para fazer todos rirem e Antonio está para ganhar o dom.

Entretanto, aos poucos fui percebendo que essas habilidades mágicas são todas facilmente aplicadas à vida real sem magia alguma. Quem não tem na família alguém que sempre se mostra forte e nunca se recusa a ajudar? Alguém que performa perfeição ou uma pessoa com humor instável? Um parente que tenta amenizar qualquer crise com comida, aquela pessoa que ouve tudo, e às vezes compartilha até o que não deve, e o palhaço que faz de tudo para todos sorrirem? Ah, e o Bruno. Não falamos muito nele nem das pessoas que falam as verdades que ninguém quer ouvir, não é mesmo?

Fotos das crianças ao receberem os dons.

Minha identificação com o filme não parou por aí. Quem não tem dentro de si vários desses “dons”? E até um pouco da Abuela, que de tão preocupada em manter tudo sobre controle, e para o bem da comunidade, ignora o mal que causa. Se chorei nas duas vezes que assisti Encanto foi porque, apesar de ser uma animação de classificação livre, esse filme tocou mais na ferida do que muito drama que já ouvi falar. Até ouvindo a trilha sonora eu choro às vezes. (Sério, vocês já ouviram: Dos Oruguitas? 😭).

É por conta dessa característica que para mim esse filme merecia mais divulgação e não deveria parar até que o maior número possível de pessoas tenha assistido e entendido a mensagem. Quantas ainda precisarão aguentar o insuportável em silêncio antes que alguma coisa mude? Por favor, não respondam. Eu sei que é desanimador.

Mas o filme é uma animação da Disney, então esperem chegar ao final com a esperança renovada e até uma solução para o problema da família, que por acaso serve na realidade também. Recomendo Encanto para quem gosta de animações cheias de cores, música, momentos cômicos e uma mensagem reconfortante no final.

Título: Encanto
Direção: Byron Howard, Charise Castro Smith e Jared Bush
Gênero: Animação, Família, Fantasia
Classificação: Livre
Duração: 109 minutos
País: Colômbia e EUA
Lançamento: 25 de novembro de 2021
Trailer: Encanto (2021) | (Youtube)

Vocês gostam de animações? Qual a favorita de vocês?
Já conheciam Encanto? Quem não conhecia, ficou com vontade de assistir?