Uma lenda do rock pesado, o cinquentão Judas Coyne coleciona objetos macabros: um livro de receitas para canibais, uma confissão de uma bruxa de 300 anos atrás, um laço usado num enforcamento, uma fita com cenas reais de assassinato. Por isso, quando fica sabendo de um estranho leilão na internet, ele não pensa duas vezes antes de fazer uma oferta.
"Vou “vender” o fantasma do meu padrasto pelo lance mais alto...”.
Por 1.000 dólares, o roqueiro se torna o feliz proprietário do paletó de um morto, supostamente assombrado pelo espírito do antigo dono. Sempre às voltas com seus próprios fantasmas - o pai violento, as mulheres que usou e descartou, os colegas de banda que traiu -, Jude não tem medo de encarar mais um.
Mas tudo muda quando o paletó finalmente é entregue na sua casa, numa caixa preta em forma de coração. Desta vez, não se trata de uma curiosidade inofensiva nem de um fantasma imaginário. Sua presença é real e ameaçadora.
Para mim uma sinopse como essa é como uma bandeja de bombons para um chocólatra. Questão se tempo até a degustação começar. Assim que pude, comprei e logo estava lendo, mas para minha infelicidade, a leitura não fluiu. Muita descrição e pouca coisa acontecendo. Para piorar um pouco mais, palavras chulas e insinuação sexual fazem parte da estória. Eu praticamente abandonei o livro já me arrependendo de tê-lo comprado pra ler. Mas eu não desisti. Fui fazer uma viagem longa de ônibus e levei o livro comigo. Somente ele. E a tática deu certo. Não terminei de lê-lo na viagem, mas era o empurrão que eu precisava.
Essa parte que não estava fluindo, era exatamente o início do livro quando Judas (ou Jude, como ele é conhecido), havia acabado de comprar o paletó e estava passando por muitos problemas com a namorada, Georgia, e seu assistente, Danny Wooten, para se esquivar do fantasma recém-adquirido.
Eu não estava me identificando com os personagens. Jude parecia muito antipático. Não respeitava a namorada. Seu verdadeiro nome inclusive era Marybeth, mas ele insistia em nomeá-la de acordo com seu estado de origem, assim como fizera com tantas outras mulheres que passaram por sua vida. Georgia, por outro lado, parecia apenas uma fã realizando o sonho de ir para a cama, com frequência, com seu ídolo. Jude também preferia evitar Danny, achando que ele sempre lhe trazia problemas. O assistente quase me conquistou, mas faltava alguma coisa pra eu realmente gostar dele. Os únicos com quem eu me identifiquei nessa fase do livro foram Angus e Bon, os cães de Jude.
A partir da segunda parte do livro, quando Jude, Georgia, Angus e Bon seguem para a estrada tentando fugir de Craddock McDermott, o morto, agora fantasma, e dono do paletó, o ritmo da leitura melhora bastante e isso acontece um pouquinho antes da página 100 - (Vejam o post que fiz na época para esse livro: [Li até a página 100] #2).
Além de a estória tomar um compasso mais frenético, passamos a conhecer melhor o casal Jude e Marybeth. O passado dos dois, inclusive antes de se conhecerem, vai sendo mostrado e sem perceber, de repente eu estava torcendo para tudo dar certo para os dois. Eles acabam sendo um casal fofo, do jeito deles.
Mas o livro não tem como foco principal o romance do casal e sim a luta de Jude para fugir do mais novo souvenir de sua coleção: o fantasma de Craddock e sua sede de vingança que não se importa em eliminar quem estiver no caminho para conseguir dar fim à vida de Jude Coyne.
Quando comecei a ler esse livro, achei que depois de terminar o guardaria e pronto, mas na realidade adorei a estória. Acho que os eventos sobrenaturais no final foram meio, digamos estranhos, do tipo: “como assim?” (não quero revelar spoilers). Mas nada que estragasse a conclusão (que eu inclusive gostei muito). Resumindo: valeu à pena. Eu recomendo.
A Estrada da Noite
Título Original: Heart-Shaped Box
Autor: Joe Hill
Tradução: Mário Molina
Páginas: 256
Editora: Arqueiro
Ano: 2007