O último conto publicado, no meu outro blog Universo Invisível, é um conto policial (Esconde-Esconde) que escrevi há algum tempo onde os investigadores usam a entomologia forense para ajudá-los na investigação. Hoje, algumas séries policiais citam o uso dos insetos durante as investigações, mas você sabe desde quando e como os investigadores passaram a usar essa ferramenta na elucidação de crimes? É uma história interessante, que aconteceu há muito tempo, em 1235 na China.
Como surgiu?
Em uma vila de agricultores, um homem foi morto, mas não havia nenhum suspeito do crime. Os encarregados de investigar o crime analisaram as ferramentas, no caso foices, utilizadas pelos homens e encontraram em torno de uma delas moscas voando, provavelmente atraídas pelo cheiro de sangue que mesmo após a ferramenta ter sido lavada continuava perceptível para os insetos. O dono da ferramenta foi interrogado e acabou por confessar a autoria do crime.
No entanto, nesse caso, os insetos não foram diretamente usados para resolver o crime, já que o assassino confessou. Vários anos depois, em 1855, na França, tem se o primeiro relato onde os insetos realmente “atuaram” na resolução de um crime. O corpo de uma criança foi encontrado em uma residência sob o piso encoberto por uma camada de gesso. Depois que os peritos analisaram os insetos presentes no cadáver e o seu estagio de decomposição chegaram à conclusão de que os moradores que residiam na casa apenas à poucos meses nada tinham haver com o crime e as investigações se dirigiram a família que residia anteriormente na casa.
A entomologia forense, no entanto, só se tornou mundialmente conhecida em 1894 quando Mégnin publicou na França o livro “La faune des cadavres”. Contudo, a metodologia utilizada por Mégnin, não pode ser aplicada para o Brasil devido à diversidade de a fauna brasileira ser muito diferente daquela de países de clima temperado e da grande dimensão continental do país. Assim, em 1908 Edgard Roquette Pinto e Oscar Freire, respectivamente nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia, iniciaram os trabalhos na área da entomologia forense nos Brasil. Com base em estudos realizados na primeira década do século XX em humanos e animais eles fizeram um registro dos insetos necrófagos em regiões da Mata Atlântica.
Pessoa e Lane (1941) complementaram os conhecimentos disponíveis de entomologia forense com um trabalho que abordava os coleópteros de interesse médico-legal e trazia um histórico até aquela data. Entre as décadas de 1940 a 1980 foram raros os trabalhos nessa área, já o período posterior se caracterizou pelo desenvolvimento desses estudos.
A princípio, os peritos criminais e legistas tratavam a entomologia forense com certo ceticismo, mas aos poucos passaram a contar com o auxílio dos entomólogos para aperfeiçoarem seu trabalho.
Como faz?
Os insetos podem ser utilizados para auxiliar a polícia em vários tipos de investigação. A aplicação mais conhecida é nos casos de morte. Mas, como diria Jack o estripador, vamos por partes!
A entomologia forense pode ser usada na investigação de danos causados por insetos, como cupins, por exemplo, em imóveis. Para tratar da contaminação em grande extensão de produtos estocados como feijão, milho entre outros. Ou mesmo para identificar a rota de entorpecentes analisando os insetos presentes na carga.
Já a utilização da entomologia forense em investigações policiais em casos de crime contra pessoa se fundamenta na característica dos insetos de colonizar cadáveres, ou seja, utilizá-los como sitio de alimentação e/ou reprodução.
Nos casos relacionados à investigação criminal essa ciência pode ser aplicada para definir o local onde ocorreu a morte, já que a fauna de insetos de um local pode (e na maioria das vezes é) bem diferente dos outros. Ao se encontrar espécies de insetos no cadáver que não sejam daquela região é uma evidência de que o corpo tenha sido movido do local original da morte.
O modo como ocorreu a morte também interfere na colonização dos insetos. Estes, normalmente procuram cavidades naturais do corpo para ter acesso ao seu interior. Locais precocemente colonizados podem indicar a presença de ferimentos.
Com a análise dos insetos também é possível dizer a quanto tempo a morte ocorreu. Pelo fato de alguns insetos (como por exemplo, as moscas) utilizarem o cadáver como sitio de reprodução, aspectos como postura de ovos, desenvolvimento das larvas e por fim a eclosão dos jovens pode ser empregada para estimar a quanto tempo o corpo está exposto. Isso porque o ciclo de vida desses insetos já foi previamente estudado e a quantidade de dias de desenvolvimento de cada fase já é conhecida. Da mesma forma, maus tratos contra crianças e idosos também podem ser aferidos já que ferimentos mal cuidados ou má higiene podem atrair insetos.
Isso é um pedaço de carne de porco, só pra esclarecer. |
Eu particularmente acho a entomologia bem interessante, tanto que minha monografia foi sobre esse assunto. Ver como os insetos podem ajudar nas investigações criminais, às vezes difíceis de resolver, mostra como nenhum aspecto pode ser ignorado. Mesmo o menor dos insetos.
Experimento que realizei durante a graduação em Ciências Biológicas utilizando carne de porco como atrativo para os insetos.
Esse texto é apenas a apresentação de uma ciência que começou na China em 1235 e continua a pleno vapor. Muitos artigos podem ser encontrados na internet, mas mesmo assim, muito ainda há de se estudar. Ainda é necessário aumentar o conhecimento sobre quais espécies frequentam os cadáveres, como utilizam e por quanto tempo para cada região, para assim poder utilizar essa ciência de forma mais ampla do que é utilizada hoje.
Fontes:
- Entomologia Forense: Quando os insetos são vestígios. Oliveira-Costa, J. Editora Millenium, Campinas, 258p.
- PUJOL-LUZ, J.; ARANTES, L. C. e CONSTANTINO, R.. 2008. Cem anos da Entomologia Forense no Brasil (1908-2008). Revista Brasileira de Entomologia 52 (4): 485-492.
- SOUZA, A. M. B. & KIRST, F. D.. 2010.Aspectos da bionomia e metodologia de criação de dípteros de interesse forense. pp. 169-182. In: GOMES, L. (Org.) Entomologia Forense: - Novas tendências e tecnologias nas ciências criminais. 1ª ed. Techinical Books Editora, Rio de Janeiro. 524p.
Bem interessante o post! Há um tempo atrás, passou um documentário na TV sobre isso... Incrível como se pode tirar pistas importantes de detalhes, aparentemente, tão pequenos!
ResponderExcluirEu também gosto do tema. Tanto que minha monografia foi sobre ele. Pena não ter como continuar.... :(
ResponderExcluirQue bom que vc gostou!! É realmente impressionante!
Oi amiga, muito interessante este post, eu adoro CSI sabia?!
ResponderExcluirBeijoss
http://dailyofbooks.blogspot.com.br/
Eu também amo CSI!! Acompanhava pela Record, mas eles são muito ruins pra transmitir seriado... já fiz um post aqui falando disso... (http://hipercriativa.blogspot.com/2010/07/csi-quantas-vezes-voce-ja-viu.html).
ExcluirBeijussss;