[Resenha] Memórias de um amigo imaginário

Sabe aqueles livros que você pega pra ler esperando um tipo de história e acaba recebendo muito mais? A sinopse chamou muito minha atenção, mas eu demorei para começar a ler por acreditar que seria apenas a história de um garoto com seu amigo imaginário. No entanto, esse livro entrega isso e muito mais do que eu esperava. Foi uma leitura que me surpreendeu de forma muito positiva.

Parece uma resposta estranha, mas a verdade é que Max nunca sabe o que dizer quando as pessoas dizem como elas se setem. A maior parte das vezes ele não fala nada; apenas espera que a pessoa converse algo diferente. Mas OK é sua resposta de segurança. Pág.268

Sinopse: Enquanto Max acreditar em mim, eu existo. Posso precisar da imaginação do Max para existir, mas tenho os meus pensamentos, as minhas ideias e a minha vida, tudo isso separado dele. Max não gosta de gente da mesma forma que as outras crianças gostam. Ele gosta das pessoas, mas bem de longe. Quanto mais afastado alguém ficar de Max, mais ele vai gostar dessa pessoa. Nós dois não gostamos da Sra. Patterson, mas ultimamente ela e Max estão estranhamente próximos. Isso não é normal, muito menos para alguém como o meu amigo. Ele corre perigo, tenho certeza… Uma história apaixonante e dramática sobre amor, lealdade e sobre o poder da imaginação. Perfeita para qualquer um que já tenha tido um grande amigo – real ou não… (Fonte: Skoob)

A história já começa despertando emoções com o relacionamento de um menino, Max, com seu amigo imaginário, Budo. Além das dificuldades usuais no ambiente escolar, há um fator a mais que atrapalha a convivência do menino com seus colegas. Apesar de o livro não mencionar o diagnóstico, ele nos induz a concluir que Max está no espectro autista e Budo, amigo criado em sua imaginação, trabalha ativamente o ajudando nas tarefas do dia a dia.

Como tem muita coisa acontecendo dentro do Max o tempo todo, ele não se preocupa muito com o que está acontecendo do lado de fora. É isso que as pessoas não entendem. Pág.20

Em casa, as coisas não estão melhores do que na escola. Os pais de Max brigam com frequência por conta do diagnóstico não fechado do filho. Enquanto o pai insiste em ver uma interação dele com o menino que não existe, a mãe tenta respeitar os limites do filho que não se sente confortável com abraços e beijos mesmo desejando ter um contato físico mais próximo.

Max não é igual a nenhuma outra pessoa no mundo. As crianças zombam dele por ser diferente. A mãe dele tenta transformá-lo em um garoto diferente e o pai o trata como se Max fosse outro garoto. Até os professores o tratam diferente, e nem sempre são gentis. Pág. 350

Diferente de tudo o que eu já li em histórias com a presença de amigo imaginário, aqui o narrador é o próprio, então, mesmo sendo em primeira pessoa, o protagonismo é dividido entre Budo e Max. Apesar dele dizer o tempo todo o quanto conhece mais as coisas do que seu amigo real, é possível perceber que ele também é uma criança e ainda tem muito para aprender. Nosso olhar de adulto entende vários eventos que ele presencia, mas não consegue compreender, o que deixa tudo um pouco mais doloroso.

Mesmo assim, atravesso a porta, ciente de que as decisões mais difíceis de tomar costumam também ser as mais acertadas. Pág.274

Se o livro fosse o que eu descrevi até agora, já seria uma leitura interessante, mas o autor foi além e quando a gente já acha que as coisas estão bastante complicadas, vem uma reviravolta para colocar mais tensão na história. É angustiante acompanhar o desespero de Budo, pois apesar de toda a consciência do perigo que seu amigo corre, apenas Max pode vê-lo e, portanto, ele não pode pedir ajuda. Pelo menos, não pelos meios convencionais.

É um tipo de realidade que os adultos não entendem, então simplesmente assumem que somos imaginários. Pág.87

Um livro que começou com a comovente história de um menino com dificuldade de se adaptar e seu amigo imaginário, o que já estava sendo muito interessante de acompanhar, cresceu para uma trama intrincada, perigosa e impossível de abandonar até o desfecho. Queria muito que esse livro tivesse recebido atenção suficiente para ser adaptado em filme.

Recomendo Memórias de um amigo imaginário para todos que já tiveram um amigo imaginário, ou não. É uma leitura que me prendeu do início ao fim de uma maneira que eu não esperava. Só não achei necessário o epílogo, pois acredito que teria ficado bem sem ele. A história já estava com o final fechado e esse extra acabou reabrindo a conclusão ao deixar certa incerteza sobre o que aconteceu.

Max nunca entenderia isso. Ele tem muita dificuldade em entender que temos de agir de forma diferente em situações diferentes. Pág.97

Título original: Memoirs of an Imaginary Friend
Autor: Matthew Dicks
Tradução: Silvia Cobelo
Páginas: 432
Editora: iD (Moderna)
Ano: 2012
Link do livro no Skoob: Memórias de um amigo imaginário

Conheciam esse livro? Já leram alguma coisa do autor? Vocês também já adiaram a leitura de um livro por não esperar muito dele e acabam se surpreendendo depois?