maio 23, 2024

[Resenha] O Signo dos Quatro

Se estivesse vivo, Sir. Arthur Conan Doyle teria completado 165 anos ontem, e que postagem melhor para o dia de hoje senão a resenha de um dos livros dele. Okay, talvez ele não gostasse muito da homenagem já que tinha ressentimento pela maneira como as histórias de Sherlock Holmes ocultou todas as suas outras obras (pra mim as editoras que não publicam outros trabalhos além das aventuras do detetive tem bastante culpa nisso), mas não tem jeito. Qualquer um que pense em Conan Doyle imediatamente pensa em Sherlock Holmes.

“Arthur Conan Doyle foi um escritor e médico britânico. Nascido na Escócia em 22 de maio de 1859, ficou mundialmente famoso por suas sessenta histórias sobre o detetive Sherlock Holmes, que revolucionaram a literatura criminal. Versátil, seus trabalhos incluem também obras de ficção científica, novelas históricas, peças, romances, poesias e obras de não ficção. Conan Doyle teve cinco filhos e morreu em 7 de julho de 1930 em Crowborough, no sudeste da Inglaterra.” (Fonte: Harper Collins Brasil)

[Sinopse] Sherlock Holmes encontrava-se entediado e deprimido quando uma bela jovem chegou com um caso fascinante. O nome dela é Mary Morstan. Todo ano, desde o misterioso desaparecimento de seu pai, ela ganha uma pérola de presente enviada por um desconhecido. Agora, seu benfeitor anônimo pediu um encontro e ela quer que Holmes e Watson a acompanhem. Juntos, eles vão descobrir uma história de tesouros inestimáveis e terríveis traições. Com introdução escrita pelo ator do seriado de TV da BBC: Martin Freeman. (Fonte: Skoob)

Dentre todos os livros e contos de Sherlock Holmes, pra mim esse é o mais romântico porque o Doutor Watson está deslumbrado com a nova cliente do detetive, Srta. Mary Morstan. Adorei vê-lo apaixonado e confesso que passei a gostar ainda mais do meu britânico favorito. Foram momentos de deixar o coração quentinho, apesar do pensamento machista predominante da época, e também alguns que me levaram às risadas.

Assim fiquei ponderando, até que pensamentos tão perigosos vieram-me à cabeça que corri para a minha escrivaninha e mergulhei furiosamente no mais recente tratado de patologia.” Pág.33 😏

O livro não começa com uma cena bonita, pois logo de início vemos o detetive alimentando seu vício enquanto o seu amigo médico tenta argumentar e convencê-lo a parar. Obviamente é inútil, pois Sherlock geralmente é irredutível em suas crenças e realmente acha que seu cérebro precisa daquilo.

Suponho que a influência dessa substância seja fisicamente negativa. Eu acho, no entanto, tão transcendentalmente estimulante e esclarecedora para a mente, que sua ação secundária é uma questão de somenos importância.” Pág. 13

A situação, no entanto, muda com a chegada da nova cliente com um caso para o detetive resolver. Com o cérebro estimulado, Sherlock dispensa esses artifícios e a aventura começa. A Srta. Mary Morstan conta ao detetive que havia passado a vida em um confortável internato enquanto seu pai era oficial de um regimento indiano. Órfã de mãe, ela permaneceu nesse local até os 17, quando recebeu uma carta do pai avisando que estava voltando para a Inglaterra e ansiava por reencontrá-la. Entretanto esse encontro nunca aconteceu.

Conforme ela mesmo relata, o desaparecimento do pai não era a parte mais singular do caso. Algum tempo depois, alguém publicou no jornal um pedido requisitando o endereço dela garantindo que seria benéfico a ela. Sua patroa a aconselhou a publicar o endereço e Mary começou a receber todo ano, na mesma época, uma pérola de tipo raro e valor considerado.

O que a faz procurar por Sherlock Holmes é o fato de ter recebido uma carta pedindo a sua presença num local marcado e permitindo que leve com ela um ou dois amigos, mas que não envolvesse a polícia. Por ter resolvido um caso para a patroa dela, Sra. Cecil Forrester, a mesma indica o detetive para acompanhar Mary.

Esse é mais um livro que se desenvolve de maneira fluída e a leitura é bem rápida. Mais uma vez narrado em primeira pessoa pelo Dr. Watson, é um mistério intrigante com um homem apaixonado se esforçando para se controlar e algumas vezes passando vergonha 😂. Como foi uma releitura, aproveitei bem melhor esses momentos.

Até hoje ela garante que lhe contei uma tocante anedota sobre como um filhote de fuzil entrara na minha tenda no meio da noite, e como eu atirara nele com meu tigre de cano duplo.” Pág. 40

No entanto, nem tudo são flores por aqui, dessa vez me decepcionei com a opinião de Sherlock sobre as mulheres, algo que na pressa não me atentei da primeira vez que li: “Nunca se pode confiar totalmente nas mulheres; nem mesmo nas melhores.” Mas, ao mesmo tempo, fiquei feliz com a reação do Dr. Watson, apesar dele não ter compartilhado em voz alta: “Não me detive para discutir essa opinião atroz.” Ambas as frases estão na página 120 do livro.

Já haviam me falado sobre esse aspecto dele, mas eu não me lembrava de ter lido. Agora não esquecerei. Como estou relendo os livros na ordem em que as histórias aconteceram, vou observar a conduta do detetive nas próximas histórias e torcer para o Dr. Watson manifestar sua revolta em voz alta! Só em pensamento não ajuda muito…

Outro detalhe desagradável que já me foi apontado, é como o Doyle enxergava pessoas não inglesas. Principalmente de origem não europeia. Algumas chegam a ser descritas como selvagens, animalescas, e acredito que essa era a mentalidade de muitas pessoas naquela época. Não vejo razão para deixar de ler as histórias por conta disso, mas, talvez seja interessante um contexto histórico com um repúdio a essa ideia em novas edições.

Recomendo “O Signo (ou sinal – depende da tradução) dos Quatro” para quem está procurando um mistério interessante, curto e de leitura rápida, são apenas 200 páginas nessa edição, com pequenas doses de romance, uma trama intrincada que fica mais complexa a cada descoberta e com cenas hilariantes. Meu destaque vão para Toby, o cachorro que se atrapalha seguindo as pistas, e uma perseguição de lancha pelo rio Tâmisa que daria uma cena digna de Velozes e Furiosos.

Então pareci flutuar pacificamente para longe num mar suave de sons, até que me vi na terra dos sonhos, com o doce rosto de Mary Morstan me olhando do alto.” Pág. 117

Ah, a introdução dessa edição é escrita pelo ator Martin Freeman e adorei saber que o primeiro contato dele com Sherlock foi com 'O Cão dos Baskervilles' em uma adaptação para o cinema, a mesma forma que eu quando conheci a série da BBC pelo 2° episódio da segunda temporada. Amei a coincidência 💖 (mas infelizmente não somos almas gêmeas, pois descobri que ele não gosta de aipo enquanto eu sou apaixonada pela salada Waldorf).


Título original: The Sign of the Four
Autor: Sir Arthur Conan Doyle
Tradução: Michele de Aguiar Vartuli
Páginas: 200
Editora: Companhia Editora Nacional
Ano: 2014
Link do livro no Skoob: O Signo dos quatro


Mais uma resenha sem seguir exatamente o roteiro que eu criei, porque Sherlock Holmes e John Watson merecem. Serei eternamente grata ao Doyle por ter criado os dois. Já vai muito além das histórias de detetive.

Espero que vocês tenham gostado da resenha! Já conheciam a obra através do livro ou de outro meio como série ou filme? Ficaram com vontade de ler? Contem nos comentários!

8 comentários:

  1. Oi! Eu li faz bastante tempo e vou admitir que não lembro desse lado mais preconceituoso. As releituras são boas por esse motivo, notamos detalhes que antes passaram despercebidos e dependendo do tempo que faz que lemos a primeira vez, na segunda temos mais maturidade e discernimento para notar certas coisas. Eu estou relendo Agatha, mas logo quero também reler Holmes. Bjos!!
    Moonlight Books

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    1. Oi! Sim, isso acaba sendo bom e ruim ao mesmo tempo, mas me dá mais segurança para apreciar a obra consciente dos problemas, mas sem passar pano para nenhum deles. Eu também tenho lido muito Agatha, mais precisamente os livros com o Poirot, mas não estou prestando atenção nesse tipo de detalhes por enquanto. Estou devorando cada mistério. Beijos!!

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  2. Oi!
    Conhecia pela série e acho que não li esse volume das aventuras do Sherlock em específico. Tem sempre essa questão ao ler clássicos né? Por exemplo já vi muita gente falando que a Agatha Christie é mega gordofóbica nos seus livros.

    Beijão
    https://deiumjeito.blogspot.com/

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    1. Oi, sim. Acho que como a mentalidade foi mudando com o passar do tempo e as pessoas perceberam o quanto machucam os outros "de graça" (isso sem falar em atitudes que hoje são consideradas crimes), muita gente mudou a maneira de se expressar a respeito de algo. Infelizmente, como muitos desses escritores não estão mais vivos, não veremos se mudariam seu comportamento. Nos resta colocar o contexto junto com a obra para continuar divulgando a ideia sobre o que está errado.

      Beijos!

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  3. Oi, Helaina! Que bom que curtiu e recomenda o livro. Adorei sua resenha, uma vez que, ficou bastante detalhada. Se prepare que certamente em suas futuras leituras você lerá o detetive apontar sua opinião negativa sobre as mulheres. Sua resenha está impecável Helaina! Gostei muito de lê-la. Abraço!

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    1. Oi Luciano, eu lembro de uma frase em outra obra que chamou minha atenção e parecia ser uma mudança nesse comportamento dele, mas vou esperar chegar nela nas minhas releituras e analisar se entendi direito. Fico feliz que tenha gostado. Abraço!

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  4. Oiê Helaina,
    Confesso que só li esse livro uma vez, e acabou sendo um dos meus menos favoritos da coleção, daí foi muito bom ler sua resenha dele pra eu rememorar algumas coisas.
    A minha parte favorita desse é possivelmente o romance e as cenas de ação. Watson é meu personagem favorito da obra, ao invés de Holmes, acho mesmo que o detetive seja o protagonista Doyle sempre destacava que Holmes tem lá seus problemas, seja com as "excentricidades", ou o uso de cocaína e morfina, seja na aversão a mulheres (como você destacou nesse, mas também aparece em alguns contos. Ele diz mais de uma vez que não entende as mulheres e que, por isso, não confia nelas).
    Sabe, eu acho interessante que os livros da coleção trazem sim cenas de machismo, racismo, xenofobia e etc, mas sempre na posição de algum personagem (que eu lembre), o autor em si parece não concordar com a afirmação dos personagens, como nesse caso de machismo desse livro, onde o autor usa Watson para dizer que era "um pensamento atroz".
    A questão do vício em cocaína também, ele usa Watson para mostrar sua própria opinião de médico sobre o assunto, naquela época ele já sabia que a substância causava mais mal que bem (embora ainda fosse lícito usar, só passou a ser proibido em 1900, tanto que a Coca-Cola teve de tirar a substância de seu produto 😅. Antes disso o povo usava essa droga a rodo em tudo que era "tônico e fortificante"). É interessante notar que Doyle já não recomendava o uso, mesmo antes da proibição.
    Ficou muito boa a resenha, e a homenagem ao autor (é, verdade que talvez ele torça o nariz pela menção a Sherlock), mas como esse livro é um dos menos lisonjeiros em relação a atitude de Sherlock, talvez ele goste que você não seja apenas mais um fã que "adora Holmes, desconsiderando as falhas do personagem" 😅😉
    As vezes eu acho que ele dava essas características ruins ao personagens de propósito só para ver se o público deixaria de ama-lo. Hahaha.
    Pois é, eu raramente encontro outros livros do autor publicados aqui no Brasil, quando tem são edições antigas e não tão bem editadas pra publicação. A maioria se acha em Sebo, em graus variados de conservação. Mas confesso que não tenho tanta curiosidade nas outras obras dele não, hahahahah, desculpa a sinceridade Doyle!!!
    Beijos, até mais 😘
    https://entulhandoideiasdiversas.blogspot.com/

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    1. Oi Anne, eu amei ler o Watson apaixonado desse livro. Ri demais com ele e o mistério que o Sherlock precisa resolver, continua à altura do detetive. Sobre os preconceitos, acho que você acertou em cheio, uma pena não termos mais o Doyle por aqui para poder conversar com ele. Claramente o autor estava indo contra alguns dos costumes da época usando seus livros para isso.
      Muito obrigada! Ah, eu adoro adotar detetives que os criadores não gostam muito. Pouco depois que passei a gostar das histórias com o Poirot descobri que a Agatha também não ia muito com a cara dele. Hahahaha... acho que descobri mais um dom meu! 😅
      O Doyle escreveu tanto terror e suspense que eu adoraria ler, mas nem em sebo tá tendo. Não sei por que o mercado editorial ignora tanto ele.
      Beijos e até mais;

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