Minha história com essa tragédia é antiga, apesar de eu ter nascido 9 anos depois do ocorrido e não ter vivenciado o fato, nem pela televisão, ou conhecido alguém que tenha estado lá. Desde a primeira vez que assisti ao relato do caso no programa Linha Direta fiquei interessada e toda vez que alguém falava sobre o assunto eu parava pra ouvir. Foi esse sentimento que reacendeu em mim quando encontrei esse livro, mas não comprei de imediato. Meu fascínio com esse caso é proporcional ao medo que tenho das histórias, reais ou ficcionais, relacionadas à tragédia. 😨
“Fui para casa em estado de alerta, de mãos dadas com um medo e uma insegurança que nunca antes estiveram tão fortes.” Pág.169
Diferente do que diz a sinopse, o edifício Joelma não foi construído no exato lugar onde ocorreu o ‘crime do poço’, mas sim nas proximidades. Esse detalhe foi divulgado dessa maneira para aumentar a atmosfera de terror do local. Entretanto, não acredito que o fato dessas tragédias terem ocorrido, pelo que mostra a Wikipédia, a cerca de 1 quarteirão uma da outra, diminua a atmosfera sombria dessa região da cidade de São Paulo. Confesso que estou com cada vez mais vontade de ler histórias de terror ambientadas na região do Vale do Anhangabaú.
“ — Samara, Samara,… certas coisas são inventadas, e todo mundo acaba acreditando. Acostume-se.” Pág.78
Vozes do Joelma, – os gritos que não foram ouvidos, reúne 4 contos assustadores apresentados por um narrador misterioso. Esse, escrito por Tiago Toy, não se identifica e tudo o que sabemos é que ele não é humano, apesar de conhecer muito bem as fraquezas da humanidade. É um narrador que nos aproxima dos protagonistas dos contos de uma maneira extremamente desconfortável por ser bastante verossímil. Essa, inclusive é uma característica no livro todo. Eu precisei pesquisar as histórias reais nas quais os contos foram inspirados para me convencer que os autores usaram os eventos para criar as narrativas totalmente ficcionais.
“Mais que quaisquer outros, os que me divertem são os hipócritas, que acreditam realizar o bem através de medidas contrárias.” Pág.190
Os mortos não perdoam (Marcos DeBrito): começando pelo passado, o primeiro conto fala sobre ‘o crime do poço’. Moravam juntos mãe, duas filhas e um filho e esse foi o responsável pelo crime brutal que aconteceu no local. Muito insatisfeito com as condições que vivia e a interferência das três mulheres em sua via, inclusive seu relacionamento amoroso, Pablo, o protagonista dessa história, trama o assassinato delas e a ocultação dos corpos no próprio terreno da casa onde moravam. Marcos narra os fatos de uma maneira tão envolvente, que eu fiquei tentada a creditar que tudo o que ele disse era verdade, mas se forem pesquisar sobre o crime depois de ler o conto, como eu fiz, vocês vão conseguir perceber a genialidade dele ao preencher as lacunas das notícias que foram manchete nos jornais da época. Gostei demais da imersão proporcionada.
“Ciente de ter caído na armadilha de pecar pelos detalhes, fugiu para não acabar soterrado pela incoerência de uma mentira mal contada.” Pág.48
Nos deixem queimar (Rodrigo de Oliveira): a segunda história se passa no dia do incêndio e além de contar onde o fogo começou, pelo menos a parte não sobrenatural, o narrador criou uma trama cujos eventos culminaram no grande desastre. Nós acompanhamos a história pela perspectiva da protagonista dentro do prédio tentando se salvar enquanto se culpa pela tragédia. A escrita de Rodrigo foi tão crível que passou para mim uma sensação de ser verdade e a reviravolta da trama é angustiante ao percebemos a condenação que somos levados a fazer durante a leitura.
Os treze (Marcus Barcelos): inspirado nas 13 almas sepultadas lado a lado no cemitério São Pedro, esse conto apresentou a repercussão do incêndio na cidade enquanto retratava os trabalhadores daquele lugar. É de se imaginar o quanto foi movimentado aquele dia com tantas vítimas fatais chegando com os corpos gravemente lesionados pelo fogo. No caso dessas pessoas, em especial, as 13 morreram presas dentro de um elevador e a condição delas não permitiu identificação. A decisão foi pelo sepultamento coletivo. No conto, o protagonista é assombrado pelas almas, mas seu ceticismo não o deixa acreditar que algo sobrenatural esteja realmente acontecendo. A trama em torno dele é muito verossímil e eu gostei da reviravolta.
“Uma sombra diferente pairava por entre os jazigos, como se os mortos estivessem incomodados e quisessem nos contar algum segredo.” Pág.172
O homem na escada (Victor Bonini): o livro inteiro poderia ter me conquistado se não fosse esse conto. Quero dizer de antemão que não é uma história ruim, mas fugiu do tema principal. Somos apresentados a uma ocupação irregular em um prédio no centro de São Paulo onde a protagonista tenta sobreviver e é atormentada por um personagem sobrenatural com um sequencia de eventos que culmina em um incêndio. Parece adequado ao livro como terror urbano, mas em nenhum momento o edifício Joelma é mencionado. A história se passa em uma época onde existem celulares e, pelo que sabemos, o Joelma continua servindo ao mesmo propósito dos anos 70, apenas mudou o nome para edifício Praça da Bandeira. O autor podia ter se valido da mesma liberdade dos outros três e criado uma realidade distópica onde esse edifício da história fosse o Joelma, no entanto, como preferiu não fazer isso, o conto me deixou com a sensação de que poderia ter sido, mas não foi. Gostei da trama e a escrita do autor me envolveu, mas como eu esperava algo relacionado ao Joelma, mesmo que ficção, esse último conto me frustrou.
“É bizarra a atração e a dependência provocada pelo dinheiro: vidas estão valendo menos que uns trocados.” Pág.188
Se você estiver procurando um livro com contos de terror, fica aqui minha sugestão. São quatro histórias muito imersivas que te deixam com a sensação de que poderiam ter acontecido exatamente da maneira que foram narradas. Não recomendo ler a noite, a não ser que você tenha mais coragem do que eu pra essas coisas. Eu não tenho. 😬
“ — Às vezes, Amilton, a gente tem que ajudar só por ajudar, sem esperar retorno. Faz bem pra alma da gente.” Pág.144
Título:
Vozes do Joelma – os gritos que não foram ouvidos
Autores:
Marcos DeBrito, Rodrigo de Oliveira, Marcus Barcelos, Victor Bonini e
Tiago Toy
Páginas:
288
Editora:
Faro
Ano:
2019
Link
do livro no Skoob: Vozes do Joelma
Quem já leu esse livro, concorda com minha impressão sobre o último conto, ou acreditam que ele tem relação direta com o edifício Joelma?


Não conhecia!
ResponderExcluirSe tiver a oportunidade de ler, espero que goste.
ExcluirOi Helaina! As histórias são muito impressionantes, eu concordo. Sobre os autores, eu curto demais as histórias do Bonini e do Rodrigo. Nunca li nada deles que não tenha gostado.
ResponderExcluirBjos!!
Moonlight Books
@moonlightbooks
Oi Cida! Vou dar uma olhada! Obrigada pela dica!
ExcluirBeijos;
Parece ser uma história assustadora. Obrigado por ter compartilhado.
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Verdade! Não consegui ler à noite.
ExcluirBoa semana pra você também!
Eu nunca tinha ouvido falar nesse edifício Joelma e nessas tragédias todas... Fui até dar um Google.
ResponderExcluirPorém eu adoro essas histórias de crimes e tragédias, horrível falar isso, mas assisto muito a filmes e documentários sobre esses temas.
Achei o post excelente e já fiquei imaginando uma série contando mais sobre os acontecimentos, ia ser sensacional hehe!
https://www.heyimwiththeband.com.br/
Menina, foi o pesadelo da minha infância! Hahahaha... culpa do Linha Direta. É um tragédia triste, mas que ainda hoje desperta interesse de muita gente. E o crime do poço que meio antecede a tragédia por ter sido num local próximo já podia ter ganhado adaptação para filme ou série. Acho que se existisse eu iria querer assisti também.
ExcluirOi Helaina, tudo bem?
ResponderExcluirApesar de ser medrosa pra assistir terror, gosto de livros nessa pegada. E adoro essa vibe de contos de terror, acho que eles dão um frio na barriga bem legal.
Eu já queria ler esse livro, mas lendo sua resenha fiquei com mais vontade ainda. Curiosidade atiçada com sucesso hahaha!
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oi Priih, tudo bem sim e você?
ExcluirEu acredito que tenha sentido muito medo lendo esse livro, porque já tenho medo da história real, então não sei se sou um bom parâmetro. Mas que assustou, assustou..rsrs..
Espero que você goste e se escrever a resenha vou querer ler para saber a impressão que causou em você!
Beijos;
Esta história é muito impressionante, já vi diversas coisas a respeito, eu nasci 12 anos do ocorrido, mas a sua recomendação de livro deu vontade de ler. Bela homenagem e muito bom este post.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Foi uma tragédia impressionante que acredito inclusive ter ajudado a prevenir algo igual no futuro. Se tiver a oportunidade de ler o livro, espero que goste. Muito obrigada!
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