Até ontem eu acreditava que me conformar com a dor e não reclamar era o mesmo que ser grata por tudo o que eu tenho. Que sentimentos deveriam ser escondidos e ser forte era o mesmo que não chorar. Reconhecer meus privilégios me trouxe a sensação de que nenhuma carência minha importava, pois há pessoas em condições piores. Precisei de algumas séries, filmes, livros e postagens com conselhos de profissionais sérios para abrir meus olhos e ver como eu me maltratava.
Até ontem eu acreditava que minha infância e minha adolescência pertenciam ao passado e nada do que havia acontecido lá poderia me afetar no presente. Não levava em consideração que mesmo não recordando conscientemente de um evento, meu sistema nervoso é capaz de lembrar e fazer o possível para me proteger. A repetição de padrões acaba se tornando uma prisão impossível de escapar ao ignorar continuamente o fato de que está presa.
Até ontem eu acreditava que não havia nada em mim que precisasse ser curado e por isso preciso aprender a ter paciência e confiar no processo. Nada aconteceu da noite para o dia e da mesma forma, infelizmente, não é assim que vai melhorar. Não posso me esquecer do ano em que tudo mudou, porque foi praticamente ontem, e até ontem eu acreditava que não podia cometer erros. Que isso me fazia uma pessoa ruim, e só agora percebo o quanto errar me torna humana.
Até ontem eu acreditava que era apegada à minha zona de conforto e por isso evitava muita coisa. Aos poucos aprendi que é comum para quem acumula traumas não tratados, se acostumar com a situação dolorosa como se fosse o normal. Nunca foi uma zona de conforto, porque além de não lembrar a última vez que me senti confortável, ao não saber como lidar com as situações cotidianas que me afetam negativamente, me condenei a apenas existir. E esse sentimento é horrível.
Até ontem eu acreditava que nenhuma mudança estava acontecendo, mas hoje eu sou capaz de perceber que meu desassossego às vezes é embasado no que eu não posso controlar ou explicar. Não foram poucas as vezes que me peguei tentando descobrir qual o propósito da existência humana. Não sei se é por estar perto de completar 42 anos, mas já me peguei tentando compreender o sentido da vida, do universo e tudo mais. E fico angustiada por não ter a resposta. Perceber esse padrão de pensamento tem me ajudado a não ficar presa nele.
Até ontem eu não sabia o quanto o autoconhecimento é libertador. Agora eu sei e tenho muito a aprender. Quis escrever essa carta para deixar registrado o que não consigo perceber nos dias comuns, e ignoro completamente nos ruins. A mudança está acontecendo, é lenta, mas algo me diz que vai valer à pena.
Imagem original: @helainaideas |
Decidi compartilhar algo um pouco diferente para a penúltima postagem de 2024 aqui no blog. Um lembrete de que pequenos passos fazem parte da caminhada tanto quanto os grandes saltos. Aproveito também para desejar que vocês tenham um NATAL muito feliz repleto de paz, alegria e ótimos momentos para recordar!
Oi Helaina! Fiquei muito emocionada lendo a sua publicação e muito feliz por você estar nessa jornada de autoconhecimento e autovalidação. Abraça todos os sentimentos, percebe onde dói e aos poucos você vai estreitando laços com você mesma, que nem sabia que estavam partidos. Vai ficar tudo bem, e com certeza essa jornada vai valer a pena. Obrigada por compartilhar e permitir que a gente também possa refletir sobre essas coisas.
ResponderExcluirGarota do 330